Sunday, April 29, 2007

Lauro António recebe Prémio de Carreira


Ontem, na cerimónia de encerramento dos Caminhos do Cinema Português, em Coimbra, o realizador e critico Lauro António, recebeu o Prémio de Carreira, atribuido pela direcção daquele Festival. O produtor Henrique Espirito Santo foi quem apresentou o Prémio.

Lauro António (1942)
Licenciado em História, foi membro do Cine-clube Universitário de Lisboa e, mais tarde, director do ABC Cine-Clube. A cultura cinematográfica adquirida no movimento cineclubista leva-o ao exercício da crítica cinematográfica a partir de 1963 e, mais tarde, à coordenação da programação de algumas salas e à direcção de festivais de cinema.
O seu Prefácio a Vergílio Ferreira (1975) antecedeu a exibição do filme Cântico Final de Manuel Guimarães, baseado na obra homónima do escritor, que viria, anos depois, a ser figura indissociável da obra de Lauro António.
Como sucede(u) com outros cineastas da sua geração, particularmente activos após a Revolução de 25 de Abril de 1974, uma forte componente do seu trabalho destinou-se à televisão.
Vamos ao Nimas (1975) traçava um roteiro de indiscutível valor histórico das velhas salas de cinema da área de Lisboa. O Zé Povinho na Revolução (1977) é um repositório de caricaturas e fotomontagens surgidas na imprensa entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975. O documentário Bonecos de Estremoz (1978), realizado sob os auspícios do Instituto de Tecnologia Educativa, tem idêntico valor ao perpetuar em película uma arte típica do Alentejo prestes a desaparecer.
A estreia de Lauro António na longa-metragem dificilmente poderia ter sido mais feliz, já que pode dizer-se que patrocinou um reencontro entre o público e o cinema português. No final da década de 70 havia-se tentado a apresentação na televisão de séries baseadas em obras literárias; uma linguagem algo cinematográfica (e por vezes hermética, sobretudo tendo em vista o veículo televisivo) impedia o êxito de tais produções junto dos telespectadores. O caso mais polémico fora o de Amor de Perdição (1978), de Manoel Oliveira, cuja versão em episódios foi unanimemente considerada como pouco adequada à linguagem requerida pela televisão, contrariamente à versão cinematográfica, que, estreada depois, viria a merecer o aplauso da crítica.
Entre Outubro de 1978 e Abril de 1979, Lauro António realiza uma série de quatro episódios a partir da obra Manhã Submersa de Vergílio Ferreira (que, curiosamente, interpretaria um dos papéis). O êxito de público e crítica é assinalável, o mesmo se aplicando em 1980 à versão (mais curta) feita para cinema. A fluidez da narrativa e a cuidada interpretação (a cargo maioritariamente de actores com formação teatral, mas, o que nem sempre sucedia em filmes portugueses, "cinematograficamente" convincente) são ainda hoje apontadas como exemplares.
A série "Histórias de Mulheres", que realizou para a Rádio Televisão Portuguesa em 1983, consistia em quatro filmes baseados em igual número de obras de escritores portugueses e confirmou qualidades dum cineasta rigoroso: Paisagem com Barcos, a partir dum conto de Maria Judite de Carvalho, A Bela e a Rosa, um conto tradicional português, Mãe Genoveva, com base na obra homónima de Vergílio Ferreira, e Casino Oceano, a partir de "Week-End" de José Cardoso Pires.
O regresso à longa-metragem cinematográfica em O Vestido Cor de Fogo (1985), baseado numa obra de José Régio, revelou-se algo decepcionante em termos de aceitação por parte do público e da crítica.
Lauro António tem prosseguido a sua actividade como ensaísta e documentarista, tendo-se, porém, nos últimos anos mantido afastado do grande écran.
Alcides Murtinheira in Instituto Camões



1 comment:

Lauro António said...

Meu caro: o texto não é meu, é de Alcdes Murtinheira. Rectifica. Mas muito obrigado pelo destaque. Isto são só flores. Que mais me estará para acoantecer?